Já se imaginou comendo no escuro?
Diversos psicólogos defendem há muito tempo que jantar em um lugar sem muitas luzes, pode ser a melhor experiência para saborear ótimos pratos.
Enquanto estudos também mostram que 80% das pessoas comem com os olhos, mas tendo a visão ocultada, a teoria é que os outros sentidos passam a ser essenciais na hora de elevar o nível do sabor. Após colocar a venda, você logo sente que focar só no paladar e olfato, pode ser uma experiência realmente transformadora.
Conheça mais sobre esse estilo de jantar especial
O ato de comer nos traz tanto o sustento para a sobrevivência quanto o prazer pela comida em si. Essa é uma experiência sensorial bem intensa e – talvez o mais importante –, uma das atividades mais multissensoriais que nós precisamos fazer várias vezes por dia.
Através de expectativas, julgamentos ou apreciação de alimentos ou sabores, todos passam a ser formulados na sua mente, conforme os suportes sensoriais (visão, cheiro, paladar, escuta e sensação).
Mesmo assim, você associa o sabor principalmente ao paladar (doce, azedo, umami, amargo ou salgado) e também pelo olfato – estudos mostram que o sabor é de fato uma construção multissensorial feita por todos os sentidos, que se unem em harmonia.
Diversas culturas têm a frase popular que “você come com os olhos” e a maioria das pessoas sabe a influência da apresentação visual na comida, mas os outros sentidos podem se perder um pouco: o som de uma travessa de bife, o estalo de uma crosta de creme brulée ou até o crocante do camarão coberto com tempurá, são todos sinais do chamado ‘’sabor de áudio’’, que o cérebro capta e realiza julgamentos com base nessa informação.
Saiba que a textura, assim como a sensação na boca e a temperatura juntas, é um dos fatores mais importantes no que diz respeito ao quanto você gosta de um ingrediente ou prato, sendo algo comum em crianças, mas também se aplica à maioria dos paladares adultos. Assim, esse estilo de jantar multissensorial é por si só, uma experiência que estimula todos os seus sentidos.
História
A história do jantar sensorial remonta a várias décadas, e suas origens estão ligadas a diferentes influências e movimentos culinários ao longo do tempo. Embora não haja um evento ou pessoa específica que seja considerada a origem exata do jantar sensorial, é possível traçar suas raízes em diversas práticas e filosofias culinárias.
Uma das influências-chave para o jantar sensorial é a Nouvelle Cuisine, um movimento culinário que surgiu na década de 1970 na França. Nesse movimento, buscava-se romper com as tradições e técnicas culinárias estabelecidas, ao montar e apresentar pratos cujos princípios são o envolvimento de sentidos e o estímulo do uso de percepções.
O estilo nasceu na França em 1970 com os alunos de Fernand Point. A Nouvelle Cuisine tornou-se popular no final da década de 1970.
Outra influência importante é a cozinha molecular, que emergiu na década de 1980. A cozinha molecular envolve a aplicação de princípios científicos e técnicas laboratoriais à culinária, resultando em pratos inovadores e sensoriais.
Além disso, chefs visionários como Heston Blumenthal, Ferran Adrià e Grant Achatz foram pioneiros em combinar ciência, arte e gastronomia para criar experiências que estimulassem os sentidos dos clientes de maneiras surpreendentes.
O chefe inglês Heston Blumenthal é conhecido como o pioneiro na gastronomia multissensorial. Proprietário de diversos restaurantes, como o The Fat Duck, ele utiliza técnicas científicas e criativas, como o uso de nitrogênio líquido e cozimento a vácuo, para surpreender os sentidos de seus clientes.
O primeiro jantar sensorial
A ideia pioneira de realizar jantares sensoriais teve início em 1999, no renomado restaurante Blindekuh, localizado em Zurique, na Suíça. Desde então, a proposta se espalhou pelo mundo, ganhando destaque em diversos estabelecimentos ao redor do globo.
Em 2004, o conceito foi adotado pelo Dans Le Noir, em Paris, pelo Whale Inside, em Pequim, na China, e pelo Camaje Bistro, em Nova York, nos Estados Unidos.
Ao alcance de suas mãos
Apesar de ser um deleite raro, o jantar sensorial não está para além do cliente interessado graças à visão do sommelier Gil Dantas do célebre restaurante e bar de jazz paulistano, o Madeleine.
Formado pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), Gil formulou seu jantar sensorial a partir de um desejo de realizar uma experiência de degustação de vinhos que escapasse do “beber por beber”.
O escopo da ideia, entretanto, não demorou a expandir e ao invés de uma mera experiência de aprendizado para enófilos, o jantar sensorial, tal como existe atualmente, nasceu para explorar não apenas a relação de nossos sentidos secundários com a comida, mas também com o ambiente e uns com os outros.
Mas o que torna esta iteração da atração tão especial?
As Regras do Jogo
Antes de tudo, os participantes do jantar sensorial devem aceitar permanecer vendados, a fim de aflorar seus outros sentidos e se orientar por cheiros, texturas e temperaturas familiares.
A experiência é segmentada entre 4 e 6 “momentos”, cada um com uma atração que varia dependendo do tema e do menu disponível, cada um deles sendo pensado para recompensar aqueles mais atentos.
Naturalmente, para cada momento há também uma bebida que harmoniza com a atração principal, sejam vinhos ou coquetéis, além de outros elementos surpresas.
Ao final de cada momento, o participante é informado sobre o que estava degustando, revelando finalmente a refeição misteriosa e presenteando os convidados com a surpresa de descobrir o quão próximos foram seus palpites.
E terminado o momento final, o tradicional show de jazz do Madeleine aguarda os convidados.
‘’Após o término, todos eles têm uma mesa reservada no lounge, onde podem tirar as vendas para presenciar o show e tomar uma água, licor ou vinho do porto, para um gran finale mais fino’’.
Além disso, se as pessoas têm algum tipo de intolerância, não podem comer algum alimento ou ingrediente, por conta de alergia, o menu pode ser adaptado. Porém, caso o convidado escolha não experimentar algo por algum motivo e se surpreenda, Gil ressalta que:
‘‘Ela tinha um pré-julgamento ou a maneira que comeu certa vez não foi legal, a combinação dos ingredientes não estava boa e muitas vezes se quebram vários paradigmas nesse sentido.’’
E talvez aí tenhamos a “alma”, do jantar sensorial: exploração, experimentação e descoberta.
A Experiência
A atmosfera do jantar foi pensada para maximizar o compartilhamento de experiências, tanto por parte de quem se senta à mesa, quanto de quem prepara e explica os pratos, tornando o evento perfeito para casais.
Uma das principais preocupações é a de que os convidados saibam que quem os serve está prestando atenção neles, seja para perguntar algo, fazer comentários, ou compartilhar histórias.
‘’Porque como tem muita gente, (se) a pessoa está chamando e ninguém responde, então acaba sendo algo que vai perdendo o sentido, que é o descaso, a falta de atenção e cuidado.’’
Isto significa que além de estarem aprendendo sobre gastronomia, os clientes compartilham experiências de vida de uma forma que não fariam em um evento gastronômico normal, aquela torna-se uma memória comum entre todos.
A fim de preservar esta atmosfera intimista, o jantar sensorial nunca é servido para mais de 30 pessoas.
As Memórias
Com até 30 pessoas vendadas compartilhando da experiência de comer no escuro, é de se esperar que conversas rapidamente comecem a brotar, não apenas sobre vinhos e comida, mas também sobre quem está sentado à mesa.
Isso se estende até mesmo para o resto do bar e restaurante e não é incomum que algumas pessoas tenham dificuldade de separar a experiência do jantar sensorial das outras atrações do Madeleine, apesar de ser um momento menor e separado do show principal da noite.
A nostalgia se torna um tempero universal, convidando os clientes a voltarem no tempo e relembrarem experiências passadas com certos cheiros e texturas, seja em restaurantes ou na mesa de casa.
No final do jantar, os convidados podem contribuir com avaliações sobre a experiência, por exemplo, explicando como descobriu a experiência e seu parecer sobre a comida e bebida, as quais são sempre estelares.
A divulgação dessa atração mensal tende a ocorrer de forma orgânica, sem anúncios online e o público costuma ajudar bastante fazendo indicações também, tornando esta uma das experiências gastronômicas mais exclusivas do mercado.
O Futuro
Dois jantares sensoriais jamais serão iguais, o que não apenas mantém o mistério da experiência mas também o caráter único de cada noite.
No próximo ano, o Madeleine já tem um cronograma que segue as datas especiais, como Carnaval, Dia das Mães ou Dia dos Namorados, assim como ocasiões especiais, desde encontros românticos a aniversários.
Assim, não importando a época ou ocasião, o jantar sensorial oferece uma experiência inesquecível a cada vez, sem erro, o que faz do evento uma carta coringa para criar memórias duradouras com alguém.
Conclusão
Se você ainda está em dúvida sobre as vantagens de aproveitar esse jantar no Madeleine, saiba que a partir dessa experiência é possível beber melhor e aproveitar mais a vida. Sem falar que depois é possível fazer uma imersão gastronômica básica dessa em casa.
Dê uma chance para esse momento gastronômico inédito.
Essa experiência única está ao seu alcance, guiada pelas mãos talentosas de Gil Dantas, em parceria com o LifeStyle Hall e pode ser desfrutada no Madeleine Jazz Bar.
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Fotos: Alex Deitos Photography
Agradecimentos: Gil Dantas
La Cena
